segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Deus é o Autor do Mal?





Em Isaías 45:7 lemos “Eu formo a luz e crio as trevas;eu faço a paz e crio o mal;eu, o Senhor faço todas as coisas.” O contexto dessa passagem é atribuído a Deus que usa um monarca chamado Ciro, para propósitos divinos. Mas o texto parece trazer uma resposta final a questão da teodiceia.
A disputa filosófica sobre a compatibilidade da existência de um Deus bom e onipotente, já dura séculos. Creio que uma das mentes mais brilhantes a dar uma profundidade sobre o assunto tenha sido Agostinho, mas desde então o problema tem se perpetuado. Alguns teólogos parecem acreditar terem resolvidos o problema, como Gordon Clark em seu livro “Deus e o mal, um problema resolvido” (1).
Alguns entendem que Isaías 45:7 dá uma resposta simples a toda essa polêmica metafísica. Deus é o autor do mal.
Será? Se Deus é o autor do mal, então Ele é pecador e responsável por todas as calamidades do mundo. Françóis Turrentin, afirma: “O mal se origina de algum erro, mas o bem exige uma causa” (2) Mas Deus não cometeu erros, então ele não pode ser o autor do mal. Ainda que criasse o homem e colocasse nesse a responsabilidade moral de escolher o bem ou o mal, essa escolha parte da responsabilidade humana. Deus não tem parte nessa escolha. Alvin Platinga explica: "O Fato de algumas criaturas livres errarem, contudo, não depõem contra a onipotência de Deus nem contra a sua bondade; pois ele só poderia ter impedido a ocorrência do mal moral removendo a possibilidade do bem moral” (3)
A questão do sofrimento e do mal no mundo ocupa um lugar de disputas porque há cosmovisões diferentes. Um  teólogo cristão enxerga a vida de uma maneira diferente de um filosofo ateu. Aqui não é uma questão do primeiro usar a fé e o outro a razão, esclareço que um cristão usa a razão iluminada pela fé. Isso dá um resultado diferente, chega-se a conclusões diferentes. Alguns perguntam: Porque Deus sendo onipotente e bondoso, não acaba com o sofrimento no mundo? Na perspectiva cristã, isso acabará de alguma forma. Mas o mal nunca se acabará, será isolado de forma definitiva dentro da eternidade. Deus fará algo perfeito dentro desse assunto que foge da questão em pauta.
Não entendemos o sofrimento e o mal no mundo, e porque Deus permite sendo ele bom. Somo finitos, nossa visão terrena ainda é muito limitada, não alcançam as dimensões dos propósitos divinos.
A dor e o sofrimento, a maldade certamente foi permitida porque isso vai colocar o homem e toda a criação num patamar de experiências eternas que de outra forma jamais poderíamos obter. Creio nisso, e tenho encontrado nessa resposta, consolo para meus anseios profundos. Deus não decepcionará  ninguém. Haverá um dia de acertos e esclarecimentos, e isso não é agora.
Mas a dor, a maldade, todas essas coisas que vimos hoje, que sentimos, e que somos testemunhas, depõe a favor de um propósito.  Deus permitiu o mal, porque isso vai elevar a alma humana para patamares de experiências que de outra forma ninguém jamais teria. Por incrível que pareça, pessoas que saíram das mais escuras experiências de malignidade, viveram de modo altruísta para ajudar o próximo. Há níveis de transformação interior na dor, e o sofrimento abre as portas do heroísmo e da dignidade pessoal. Assim na sua experiência em Auschwitz, Viktor Frankl falou: “ Quando a circunstância é boa, devemos desfruta-la, quando não é favorável, devemos transforma-la, e quando não ser transformada, devemos transformar a nos mesmos.”.  Assim de uma profunda malignidade brota o amor pelo próximo, como aconteceu com Maximiliano Kolbe que morreu em lugar de um judeu condenado, para salvar a vida dele. Sem a existência do mal, não haveria como atribuir experiências de heroísmo e dignidade entre os humanos. Por esse caminho tento compreender porque Deus permitiu o mal, tendo ele o poder de evita-lo.
De certa forma concordo com Richard Graf quando diz que “A dor não é uma realidade sombria. Um cristão que viva a sua fé em pleno seguimento de Cristo até o fim, esse é o homem mais feliz do mundo. Porque a dor é a outra face do amor, e o amor é alegre” (4)
De certa forma, tudo isso é cercado de enigmas, o sofrimento é um código difícil de decifrar, mas com certeza, não houve um erro na criação. Não houve uma falha, existe sim um propósito. Acho que a teodicéia ganha luz quando cremo que por essa  via, as coisas ganham uma compreensão mais profunda.
Mas voltemos a questão primeira. Mesmo que o mal tenha um propósito, ele só existe por permissão de Deus.  A bondade absoluta de Deus e a sua perfeição majestosa não permite que ele seja o autor do mal. Então como explicar Isaías 45:7?
Deus é autor do mundo pré adamico, o mundo que estava em caos, em um caos torrencial. Um mundo violento, caótico, primitivo e furioso.  O homem jamais poderia viver em um mundo assim. Então o lugar primitivo do homem era um jardim. Deus colocou ordem nesse mundo caótico e ao homem concedeu-lhe um paraíso. Nesse caso ele é o autor da calamidade da terra caótica. A expulsão do homem, o conduziu ao  mundo que voltou a ter  vestígios do mundo caótico primitivos. Deus cria o juízo sobre as nações e a disciplina aos seus filhos. Assim entendemos que Isaías 45:7 fala que Deus é a autor de calamidades e disciplinas rígidas e de juízo sobre povos e nações.  Mas jamais o texto diz que Deus é o criador do mal moral.  Algum traduções das escrituras, como a versão judaica de Davi Stern traduz o texto de Isaías colocando “Desgraça” ao invés de mal (5) Assim também traduziu o texto, A Bíblia de Jerusalém.

(1)Dios Y  El Mal, El Problema Resuelto de Gordon Clark está disponível no website
Cheungyclarkenespanol.wordexpress.com
 (2) François Turrentin Compendio de Teologia Apologética Tomo I Pag 52 Editora Cultura Cristã
(3) Alvin Platinga- Deus a Liberdade e o Mal Pag 47 Edições Vida Nova
(4) Richard Graf   O Cristão e a Dor Pag 6 Editora Quadrante
(5) A Biblia Judaica Davi Stern Pag 559 Editora Vida

Autor : Clavio J. Jacinto

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